Escreveu contos, peças de teatro e romances e foi uma acérrima defensora dos direitos das mulheres. Foi perseguida durante o Estado Novo, juntamente com Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta, após a publicação das "Novas Cartas Portuguesas" – uma obra literária que denunciava a repressão e a censura do regime do Estado Novo, que defendia a condição feminina e a liberdade de valores para as mulheres. Esta publicação resultou num processo judicial das três autoras, que ficou suspenso depois da revolução de 25 de Abril de 1974.
Recebeu o Prémio Camões, em 2002; foi feita Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, no ano seguinte; e, em 2011, tornou-se Grande-Oficial da Ordem da Liberdade.
O último romance que publicou, "Myra" (2008), valeu-lhe o Prémio PEN Clube de Novelística, o Prémio Máxima de Literatura, o Prémio Literário Correntes d`Escritas e o Grande Prémio de Literatura dst.
Deixamos aqui um exceto dessa obra, lido por Filipa Leal
Um romance que parte da relação de amizade que uma adolescente russa imigrada em Portugal estabelece com um cão de raça perigosa. O livro tem ilustrações lindíssimas da pintora Ilda David.
«Falta muito?, perguntou Myra, no desvio do descampado deserto, agreste de árvores cinza na madrugada, rebanhos de ovelhas e bois com a cabeça descida à terra ocre, de fome, de sono.
Falta o que falta da tua história.
E o Sr. Kleber sorriu.
Não tenhas medo, miúda. Em todas as histórias há sempre uma ponta do paraíso, um véu de clemência que estende uma ponta, fugaz que seja.»
Falta o que falta da tua história.
E o Sr. Kleber sorriu.
Não tenhas medo, miúda. Em todas as histórias há sempre uma ponta do paraíso, um véu de clemência que estende uma ponta, fugaz que seja.»
«O céu estava baixo e muito escuro. Havia estrias roxas e verdes na distância mais clareada do horizonte e pareciam, céu e mar, uma única onda a levantar-se para cobrir a terra. Myra tirou os sapatos e as meias rotas e ficou parada a ver aquele assombro. Se corresse por ali adentro ninguém daria com ela nunca mais, nem no país dali, nem em nenhum outro.»
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